Alguns estudos científicos são como os fantasmas. Apesar de não existirem, são causadores de muito falatório e espanto. Um dos meus estudos-fantasma preferidos é um estudo sobre o impacto da contemplação do decote na saúde dos homens. Por toda a internet, em revistas de mais ou menos credibilidade cita-se um estudo feito na Alemanha, em que participaram 500 homens, tendo sido pedido a metade deles que olhasse todos os dias compenetradamente para seios femininos e à outra metade que se abstivesse de o fazer. O período de duração do estudo era épico: 5 anos. A autora havia concluído que os sujeitos contempladores das curvas femininas demonstraram menor tensão arterial, pulsos mais lentos e menos episódios de perturbações cardíacas. O estudo havia, alegadamente, sido publicado no New England Journal of Medicine, uma revista científica de qualidade.
Encantado com a comprovação científica do que o meu bom senso já indicava, que a GQ, e especialmente as suas capas, estariam a promover a saúde e a longevidade dos homens portugueses, fui procurar a investigação original. Qual a minha desilusão quando descobri que na revista citada não existe nenhum estudo que relacione a admiração do peito com a saúde do coração. Investigações posteriores mostraram-me que este estudo é tão real como os príncipes Nigerianos que me enviam e-mails a pedir dinheiro para reaverem a sua herança. Tenho de fazer aqui um Mea Culpa e admitir falta de senso científico. Afinal, lendo friamente a descrição do estudo é fácil perceber que este não existe. Alguém acredita que 250 homens se abstiveram de olhar para seios femininos durante 5 anos?
Outro estudo ainda mais citado, ao ponto de as suas conclusões inventadas serem aceites como factos, compara o número médio de palavras que as mulheres e os homens dizem num dia. Este alegado estudo refere que os homens dizem três vezes menos palavras que as mulheres. O número de palavras ditas varia consoante a publicação onde ouvimos citadas estas conclusões. Há quem escreva duas mil palavras para os homens e seis mil para as mulheres, e quem coloque esses valores em 5 e 15 mil, respectivamente. Percebo que estas conclusões, mesmo para o mais ocasional observador da natureza humana, seja fácil de acreditar. A ideia de que as mulheres falam muito mais do que os homens parece ser confirmada em qualquer jantar, programa de televisão ou discussão conjugal.
No entanto, quando procurei encontrar estudos que comprovassem a avalanche verbal feminina encontrei o oposto. Um estudo de elevada qualidade (e que existe!), publicado na estimada Science comprova que homens e mulheres falam…o mesmo. Já agora, os valores são 16215 palavras por dia para as mulheres e 15669 para os homens, não sendo esta uma diferença significativa. Contudo, a amplitude dos homens é maior, porque possuíam quer o participante que falava menos, com umas lacónicas 500 palavras por dia, quer o mais fala-barato, com 47000.
Apesar de os valores médios serem semelhantes, desconfio que o uso da palavra não é igual nos dois sexos. Acredito que as mulheres falam quase todas muito, ao passo que os homens se distribuem entre os que falam pouco, alguma coisa e os que falam demais. Basta ver que, entre os comentadores televisivos sempre dispostos a produzir tsunamis verbais, a maior parte são homens.
Um mito comum confirmado por este estudo prendia-se sobre os temas que produziam mais falatório entre homens e mulheres. As senhoras discursavam mais sobre outras pessoas e relações interpessoais, ao passo que os senhores o faziam sobre temas mais concretos e impessoais. Ou seja, as mulheres falam mais de temas essenciais como o que A fez a B e o que C tinha vestido, ao passo que os homens não se cansam de perorar sobre questões fundamentais como quais os membros do plantel da sua equipa ou quantos cavalos tem determinado motor. Mas não era preciso um estudo científico para que acreditássemos nisso…