No topo da Europa
A crise prolonga-se, o desemprego aumenta, a economia sofre. Todas as semanas
noticiam-se estatísticas que colocam os Portugueses na cauda da Europa, por
vezes até mesmo debaixo da cauda, a ser chicoteados por esta. Contudo, foram
divulgados os resultados de um importantíssimo estudo que revela que, no que
realmente interessa, os Portugueses ganham a medalha de ouro. As mulheres
portuguesas não só têm relações sexuais com mais frequência que as outras
mulheres europeias, como são também as mais satisfeitas com a sua vida sexual.
88% das portuguesas mostra-se feliz com a sua vida erótica! O país com
resultados mais próximos é a Espanha, com uns medíocres 75%. Quanto à rica
Alemanha, de que lhe serve todo o poder e todos os biliões de euros, de que lhe
serve ser governada pela mulher mais poderosa da Europa, quando 47% das
mulheres alemãs diz não fazer amor sequer uma vez por semana (em Portugal
apenas 19% das senhoras estão nesta situação). Pior, dos países estudados, só
mesmo a Suécia, onde apenas 45% das mulheres procura o paraíso nos lençóis pelo
menos uma vez por semana, e onde existe também a maior percentagem de mulheres
que nem uma vez por mês honra os Deuses Vénus e Apólo. Não admira, pois, que o
Algarve, assim que faz algum calor, se encha de nórdicas à procura do consolo
dos sedutores latinos, de falinhas mansas, bigodes fartos e inglês macarrónico.
Outro estudo confirma o nosso domínio na arte de amar. Neste caso, questionados quer homens,
quer mulheres, 54% dos portugueses afirmava fazer amor duas vezes por semana.
Mostrámos ser também dos povos mais espontâneos. 94% dos portugueses lançavam-se
na prática de páginas do Kama Sutra sem planear. 2% planeava com 15 minutos de
antecedência e só 5% precisavam de meia hora ou mais. É possível que esta falta
de planos seja criticada pela troika, e que em breve o Governo crie legislação
para que o nosso planeamento amoroso se aproxime mais da média europeia. Se a
situação não melhorar, não ponho de parte que, pelo menos para os funcionários
públicos, se torne obrigatório o preenchimento de uma Requisição de Autorização
para Acto Amoroso (Formulário AB 6 – REF 253436), a ser assinada pelo casal e
entregue no departamento adequado.
Os portugueses são um povo muito peculiar. Está na sua natureza conseguir grandes feitos, mas
também duvidar destes. Os velhos do Restelo não descansam. Por todo o país, nos
cafés, nas esplanadas, nos transportes públicos, junto à máquina de café dos
escritórios, há sempre quem esteja cheio de vontade de mandar tudo abaixo. Não
duvido de que se uma equipa de investigadores portugueses descobrisse a cura
para o cancro, logo algum velho de Restelo comentaria esse avanço civilizacional
dizendo: “Pois, pois, isso do cancro até resolvem….mas para a minha azia, nada!
Experimento tudo o que os médicos mandam e, sempre que como alheira, parece que
tenho no estômago a batalha de Aljubarrota!”. Ora, quando as equipas de
reportagem saíram à rua para divulgar os grandes feitos dos portugueses e
portuguesas nas artes amorosas, a reacção não foi diferente. Perguntados sobre
a enorme frequência de relações sexuais das portuguesas, os entrevistados
respondem: “Mentem!”. Inquiridos sobre a sua opinião face ao surpreendente
facto dos portugueses serem dos mais espontâneos no leito: “Há povos mais
espontâneos! Os italianos, por exemplo….”. A única coisa em que os estudos e as
pessoas entrevistadas na rua concordam, é que os portugueses são muito
envergonhados no que toca aos assuntos sexuais. Pelos vistos, falamos pouco e
fazemos muito. Eu já estou cansado de velhos do Restelo e da falta de brio nas
nossas conquistas. Desafio um novo Camões para que venha celebrar os belos e
felizes actos que os casais portugueses praticam mais do que qualquer outro
povo. Até deixo uma sugestão para o início destes novos Lusíadas do amor:
Canto I
As moças e os varões enrolados
Na areia da praia Lusitana,
Livres, arfantes e pelados,
Mostraram ao mundo como se ama,
Em beijos e carícias esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
A triste e terrível crise olvidaram
No êxtase do amor que cantaram.