A meio da festa o João decide que já chega de trocar olhares e sorrisos com a rapariga bonita que está sempre com um copo de vinho na mão. Inicia então o pequeno percurso até ela. Vai confiante e viril, com as costas muito direitas e os maxilares contraídos para mostrar um ar determinado. Assim que chega ao seu destino a rapariga vira-se para ele com um meio sorriso. João sente que este é o seu momento. Já decidiu o que dizer. Vai ser infalível! – pensa, e abre a boca para dizer:
-Acreditas no amor à primeira vista? Ou vou ter de passar aqui mais uma vez?
Para sua surpresa, a rapariga, em vez de um olhar apaixonado, mostra-lhe a sua desilusão. Velozmente esta evolui para repulsa que rapidamente se transforma em escárnio. O João sai dali para fora assustado com o riso troceiro da bela mulher.
Esta sequência de eventos podia ser evitada se o João e outros casanovas estivessem familiarizados com um estudo realizado na Universidade de Edimburgo, que tentou avaliar a eficácia de diferentes frases de engate. Os investigadores compilaram uma série de abordagens pertencentes a quatro tipos: 1 Os elogios foleiros: Magoaste-te muito?....É que só podes ser um anjo que caiu do céu!. 2 Os comentários olha que eu sou espectacular através dos quais o homem procurava mostrar-se rico, boa pessoa ou culto: Já viste a exposição de Pop Art que está no CCB? É interessantíssima!. 3 As abordagens sexualizadas: Sabes onde é que a tua roupa ficava bem? No chão do meu quarto. 4 O humor sem trocadilhos ou conotações carnais: Olá, posso comprar-te uma ilha nas Caraíbas?
De seguida os investigadores pediram a uma amostra de homens e de mulheres para avaliar as abordagens. Uma das conclusões mais interessantes é a de que os traços de personalidade das senhoras influenciavam as suas preferências. Assim, as mulheres mais extrovertidas apreciavam frases humorísticas, ao passo que as mulheres não-conformistas repudiavam mostras de riqueza. Independentemente da personalidade das mulheres, os elogios com trocadilhos do tipo “tu és como um helicóptero: gira e boa!” tiveram péssimos resultados, tal como os comentários sexualizados, que eram os mais repudiados pelas mulheres. As abordagens de que as senhoras mais gostavam eram as que pareciam evidenciar riqueza e cultura da parte dos seus autores, o que me confirma a suspeita de que as mulheres gostam demasiado de pedantes, principalmente se os pedantes forem donos de um descapotável.
As avaliações dos homens eram parecidas; eles também achavam as abordagens humorísticas e as que revelavam cultura, carácter ou riqueza como eficazes. A excepção surgiu na sobrevalorização do efeito dos trocadilhos por parte dos homens. Os investigadores ofereceram uma teoria para tentar explicar esta aparente incongruência. Se os homens estão interessados num encontro casual então os trocadilhos à música pimba servem de teste. Uma mulher que oiça uma frase como “Tu aí cheia de curvas e eu sem travões!” e continue a falar com o homem que a proferiu, deve estar mesmo interessada. A mesma teoria dizia também que, quando os homens vêem nas mulheres uma possível futura esposa, a sua abordagem é mais cuidada. A primeira parte da teoria parece um pouco forçada e a segunda muito óbvia. Afinal, ninguém quer ter de, quando os filhos lhe perguntarem como os pais se conheceram, responder: “Eu vi a tua mãe e disse-lhe: Diz-me como te chamas para te pedir ao Pai Natal!”.
Os homens podem matar-se a pensar na abordagem ideal, mas é tempo desperdiçado. Ao contrário do que muitos pensam, raras vezes as palavras iniciais agem como um elixir de amor. Por outro lado, não é incomum que actuem como uma vacina. Depois de as ouvir a mulher evitará o contacto com aquele homem para o resto da vida. Os cavalheiros devem pois agir com cautela e modéstia. Podem seguir o exemplo do famoso e confiante sedutor algarvio, o qual na sua sedução da mulher nórdica evitava o trocadilho fácil, abordando-a de forma gentil, oferecendo-se para lhes colocar o protector solar.
No entanto, se o leitor precisar mesmo de algo para dizer ao abordar uma encantadora senhorita, pois, de acordo com os estudos, que seja algo do género:
“Olá! Não é que eu outro dia, quando voltava no meu iate do meu trabalho filantrópico em África junto de órfãos disléxicos, ouvi uma piada encantadora sobre Mozart…