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Jul 12
publicado por Nuno Amado, às 08:44link do post | comentar

Qualquer leitor que tenha visitado um salão de jogos na sua adolescência estará familiarizado com o significado da
palavra Tilt. A expressão provém do Pinball onde para evitar que o jogador fizesse batota, assim que houvesse
alguma inclinação (tilt) da máquina, o jogo parava, entrava em tilt e o jogador ficava impossibilitado
de operar os comandos. A expressão generalizou-se para qualquer jogo onde, propositadamente ou por acidente, o sistema bloqueasse frustrando o jogador e deixando-o com um sentimento de impotência. 

 

Suspeito que o inventor do tilt fosse um homem que teve a ideia genial de transpor para o mundo dos jogos aquilo que lhe acontecia quando
discutia com a sua mulher. John Gottman, dedicado estudioso das relações conjugais, refere que uma das piores coisas que pode acontecer quando um casal discute é um dos membros petrificar, ou seja, bloquear a meio de uma discussão,
deixando de falar ou saindo mesmo do local onde esta ocorre. Sem surpresa, o Dr. Gottman verifica que esta estratégia é muito mais comum nos membros masculinos do casal. Para mim, petrificar é apenas uma maneira mais elegante de
dizer fazer tilt. Como estratégia, é péssima. Muitos leitores saberão por experiência própria que a última coisa que uma mulher quer, a meio de uma discussão, é que o homem deixe de falar. E se ele sair de perto dela, se ele disser qualquer coisa como “não quero falar
disto agora”, “não tenho nada a dizer” ou “tenho de me ir embora”, os deuses tenham misericórdia dele porque fazer essas afirmações, a meio de uma discussão acalorada, é o equivalente a encontrar uma colmeia num passeio e decidir
dar-lhe um pontapé.

 

Mas, pobres homens, eles não fazem tilt porque querem. Por algum motivo a natureza dotou as mulheres de uma capacidade argumentativa infalível e aos homens deu corpos maiores, pretendendo, por certo, que eles os usem para trabalhar o suficiente para poderem comprar flores e chocolates e pedir desculpas. Qualquer um dos homens famosos pela sua capacidade de argumentar em público perderia uma discussão com a sua mãe em dois minutos. Pensemos nas crianças. As raparigas têm com as mães uma relação de aprendizagem, onde lhes é
transmitida a forma correcta de fazer as coisas verdadeiramente importantes do mundo. A frase típica de uma rapariga de cinco anos para a sua mãe poderia ser “mãe, como é que eu faço isto?”, espelhando a sua relação de professora e aluna. Quanto aos rapazes, a sua frase
típica será algo como “mãe, desculpa ter feito aquilo”, mostrando que a mãe de um rapazinho é para ele não só o garante da sua sobrevivência, mas todo um estado policial ao qual é impossível escapar.

 

 Se as discussões conjugais fossem jogos de futebol, qualquer mulher seria o Barcelona, e a maior parte dos homens jogaria numa equipa das distritais que acabou de despedir o treinador. Pouco tempo depois da discussão começar, os homens, por mais que se esforcem não conseguem interceptar a bola. Os argumentos que utilizam são desfeitos em segundos, as questões que lhes são colocadas (a uma velocidade tremenda), parecem impossíveis de responder. Como o Barcelona troca a bola de forma quase mágica, a mulher, durante a discussão, vai enunciando uma série de factos e detalhes que o homem, provavelmente ocupado com o calendário da Liga, nunca memorizou. Em poucos minutos, assim como as defesas são feitas em pedaços pelo Messi, também a ideia que o homem tem do que se passa na sua relação, ou da própria realidade, vai sendo goleada. O membro masculino da discussão, ainda sem ter feito o aquecimento devido, já ouviu inúmeras acusações, não só em relação ao que ele fez, como ao que não fez mas devia ter feito, como ao que fez com boa intenção mas maus resultados, ou ao que fez com bons resultados mas sem a intenção própria. E é
nesta altura que surge, muitas vezes, o tilt.
Utilizando ainda a metáfora futebolística, é quando o treinador percebe que não vale a pena estar a descer o meio-campo, ou tentar colocar outro central ou seja o que for que o massacre vai continuar. Nesta situação, muitos homens fazem o que os treinadores que defrontam o Barça não podem fazer: retiram a equipa de campo.

 

Mas, se os homens querem que o campeonato continue, ou seja, que a relação se mantenha, o melhor é respirar
fundo e ficar em campo. Pode ser que ainda se marque um golo de honra. Afinal, as mulheres são como o futebol do Barcelona, não é agradável ser o seu adversário, mas é um prazer de se ver.


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